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24 de mai. de 2010

Bullying desafia educadores


Bullying desafia educadores



Florianópolis, Itajaí, Joinville, Lages e Morro da Fumaça participam de ciclo de palestras do Legislativo/MP



Alexandre José Back

Tatiani Magalhães



O Programa de Combate ao Bullying Escolar, violência que muitas vezes é confundida com simples brincadeira, esteve em Florianópolis, Itajaí, Joinville, Lages e Morro da Fumaça, de 11 a 14 de maio. Promovido pela Escola do Legislativo e Ministério Público, o evento teve a primeira reunião no auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa, dia 11.

Na reunião, foi apresentada pesquisa 2009 do IBGE (Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estatística), na qual 30,8% dos alunos entrevistados declararam já terem sofrido o problema, que ocorre mais nas escolas privadas (35,9%) do que nas públicas (29,5%). Derivado da Lei nº 14.651/2009, do deputado Joares Ponticelli (PP), o programa visa fomentar o debate sobre bullying escolar, ampliando o conhecimento sobre o tema e refletindo sobre maneiras de prevenir sua prática, através de uma educação para a cultura da paz.

Para Ponticelli, que já foi professor, bullying é um nome novo para um problema antigo. “Convivíamos com a prática, que não conseguíamos dimensionar a amplitude. Hoje sabemos que pode gerar queda no rendimento escolar, depressão e até morte.” Ele citou o caso da filha

do imperador do Japão, que aos nove anos de idade deixou de frequentar a escola por depressão decorrente da perseguição sofrida pelos colegas de escola. Para o deputado, que também é presidente da Escola do Legislativo, a grande virtude do programa é ampliar o debate sobre o problema. “Atualmente, mais de 50 municípios do estado já estão debatendo e apresentando projetos referentes ao bullying, prática que é um dos nascedouros da violência na sociedade.”

Cléo Fante, vice-presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre Bullying Escolar e autora de dois livros sobre o assunto, destacou que há a necessidade de diferenciar o bullying de outras formas de violência. “No bullying há a intenção de causar danos, com

desequilíbrio de poder e ausência de motivos, com prejuízos para a educação e saúde. Somente entendendo o problema, que é bastante distinto, poderemos atacar suas fontes”, explica. Segundo a educadora, recente no Brasil, o estudo do bullying há muito vem sendo realizado em outros países, como a Suécia, que há 40 anos desenvolve trabalhos na área. A violência, segundo Cléo, que pode manifestar-se em crianças já a partir dos três anos, deve ser vista como uma preocupação constante por parte dos governos.

Priscila Linhares, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual, afirmou que o órgão constatou que muitos casos escolares que poderiam ser resolvidos na própria escola, estavam indo parar nas mesas dos promotores de justiça.

Visando resolver o problema, o MP associou-se ao programa, elaborando uma série de materiais didáticos, como folders, cartilhas, gibis e marcadores de páginas, destinados aos alunos, familiares e responsáveis pelas unidades escolares catarinenses. “Precisamos nos valer da campanha para passar a mensagem de que a prática do bullying não é algo saudável, mas algo sério, que tem consequências”, observou.

Univali destaca trabalho pioneiro


Univali destaca trabalho pioneiro



Alunos, educadores e gestores escolares lotaram dia 12 o auditório da Univali, em Itajaí, para discutir o tema. O município, por intermédio da universidade, realiza um trabalho considerado pioneiro no estado, desenvolvendo pesquisas sobre a violência escolar.

Pedro Girardi, coordenador do curso de Psicologia, destacou que a pesquisa, realizada por recomendação da Secretaria da Educação do município, está sendo feita com mil estudantes de 6ªs a 8ªs séries do ensino fundamental, visando diagnosticar como a violência ocorre.

“Estamos ainda na fase da coleta de dados, que deve se estender até junho. A partir dos dados obtidos vamos procurar instituir programas, como o combate ao bullying, para enfrentar esse problema.” Maria Heidemann, secretária municipal da Educação, afirmou que primeiro é preciso conhecer o problema por meio dos dados obtidos com a pesquisa. Isso possibilitará a implantação de políticas públicas mais eficientes para coibir a violência escolar.

Joinville pretende criar equipe multidisciplinar



Joinville pretende criar equipe multidisciplinar

Em Joinville, dia 12, profissionais da educação trocaram experiências de como implementar formas de prevenção ao comportamento. Iara Andrade Costa, secretária de Educação de Joinville, vê no programa uma forma de complementar os trabalhos já desenvolvidos nas escolas do município, como o “Linguagem da Não Violência”, que começou como projeto de extensão da Univille, visando orientar para educar.

“Acreditamos que a prevenção deve começar pela linguagem, pois esse é o principal meio por qual se propaga a violência.” Iara, que também é professora de História, afirmou que, por ter participado da rotina diária de uma escola, sabe que seu ambiente é permeado por ela. “Ainda não temos dados para quantificar o nível de violência que há nas escolas do município, mas acredito que, como cidade mais populosa do estado, deverá apresentar níveis igualmente altos”.

Segundo a secretária, já há uma equipe, formada por pedagogos e psicólogos sendo capacitada para combater o bullying, devendo utilizar o material didático desenvolvido pelo Ministério Público para isso.

Cléo Fante, vice-presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre Bullying

Escolar (Cemeobes) e principal palestrante do evento atribui a boa aceitação do programa à necessidade que a comunidade escolar apresenta em se instruir sobre o tema. “Quero parabenizar o Ministério Público, parceiro na implantação do programa, as secretarias municipais, bem como as escolas catarinenses, pela forma com que tem se mostrado interessados em discutir e resolver o problema”. A educadora instigou aos educadores e gestores em educação presentes a levantar dados sobre a violência escolar em Joinville e formar equipes multidisciplinares.

Região Serrana


Região Serrana

Em Lages o debate aconteceu no dia 13, com cerca de 500 pessoas. Alunos, educadores, gestores escolares e autoridades mostraram-se determinadas em acabar com esse tipo de violência. A secretária de Educação de Lages, Sirlei da Silva Rodrigues, ressaltou que o município vem trabalhando em conjunto com os educadores para resgatar os valores de uma escola feita para educar dentro de um ambiente de paz e ética.

Na oportunidade, Romeu Rodrigo da Costa Silva (DEM), presidente da Escola do Legislativo de Lages, disse que os encontros promovidos pela Assembleia Legislativa para abordar o tema estão mobilizando o estado, fazendo com que cada escola invista nas equipes multidisciplinares e adote a campanha como mecanismo de informação e aprendizado.

O prefeito de Lages, Renato Nunes de Oliveira (PP) demonstrou preocupação com o assunto que, segundo ele, vem crescendo no mundo e atingindo cada vez mais as crianças e os jovens.

Morro da Fumaça


Morro da Fumaça



No dia 14 foi a vez da comunidade de Morro da Fumaça discutir formas de prevenção ao bullying escolar. Na condição de palestrante, Marlos Gonçalves Terêncio, psicólogo do Centro Operacional de Apoio à Infância e à Juventude, do Ministério Público Estadual (MPE) falou que Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada em 2009 pelo IBGE, em escolas públicas e privadas de todas as capitais brasileiras revelou que os alunos de escolas privadas são os que mais sofrem esse tipo de violência: 35,5% do total. Os estudantes da rede pública representam 29,5%.


Ailton viel
Florianópolis - SC