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21 de mai. de 2010

Bullying não tem graça!


Conteúdo Diário Catarinense: kzukasc | 21/05/2010 10h10min

Bullying não tem graça!

Sabe aquele seu colega que fica isolado no recreio? Ele pode estar precisando de ajuda!

Sabe aquele seu colega que fica isolado durante o intervalo das aulas ou nem sai pro recreio? Provavelmente, ele não é só uma pessoa antissocial. Entenda por que as vítimas de bullying se afastam do convívio dos demais alunos e os motivos que levam a galera a excluir, debochar e humilhar os colegas. Tá na hora de pensar duas vezes antes de “brincar” com o outro.
A equipe Kzuka entra num colégio e vai falar com uma turminha de alunos do 2º ano. São todos bonitinhos e arrumados. A repórter explica que vai escrever sobre bullying. Todos sabem o que é. Todos sabem quem comete. Todos sabem quem sofre.
Pode falar com aquela guria de moletom branco. Todo mundo brinca com ela, faz piadinha. A gente já a deixou trancada do lado de fora da sala – comenta uma das meninas do grupo.

Sobre o motivo pelo qual fizeram isso, eles disseram, entre um risinho e outro, que “ela é esquisita”.

Mas o negócio também acontece entre o pessoal mais novo. O Kzuka ouviu três alunos da 8ª série – dois meninos e uma menina. Eles tiveram autocrítica e reconheceram os erros:
A gente excluía e ofendia os alunos que chegavam. Quando um faz, o resto vai na onda. Quando você tá fazendo, não percebe, não acha errado, faz tudo de forma inconsciente – reconhece a garota.
Ela conta que os xingamentos podem ser os próprios defeitos que o autor não vê em si mesmo e projeta no colega.
Sabemos que algumas pessoas vão lembrar disso a vida toda! Hoje, a gente vê que as pessoas eram legais, mas não dávamos oportunidade de conhecê-las antes – afirma.

A palavra bullying pode até ser nova, mas a prática sempre existiu, principalmente no ambiente escolar. O termo é utilizado para descrever atos de agressão física, verbal e/ou psicológica intencionais e feitos de modo repetitivo. Só que antes tudo era encarado como “brincadeira” ou “coisa de adolescente que quer aparecer”. Seja porque virou moda, seja porque a conscientização bateu às portas das escolas, felizmente, hoje em dia o bullying está sendo combatido.

CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO
Em Santa Catarina, já existe uma lei para barrar a prática de bullying nos colégios. Mas entendendo que sozinha ela não seria suficiente, o Ministério Público Estadual começou, este ano, a campanha Bullying, isso não é Brincadeira para tentar frear o comportamento agressivo nas escolas. É um trabalho de conscientização de alunos, pais, responsáveis, professores, diretores e sociedade em geral, por meio da distribuição de material informativo – folders, cartazes, gibis, marcadores de página e vídeos – explicando o que é o bullying e as consequências que ele pode provocar em suas vítimas.

A campanha conta com a parceria da Secretaria Estadual de Educação, Assembleia Legislativa, secretarias municipais e do Sindicato dos Estabelecimentos Privados de Ensino de Santa Catarina, que divulgam o material nas escolas públicas e particulares.
A necessidade desse tipo de ação é comprovada pelos números. A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada em 2009 pelo IBGE, entrevistou 60.973 estudantes da 9ª série do ensino fundamental em colégios públicos e privados de todas as capitais brasileiras e do Distrito Federal. Ao final, 30,8% dos entrevistados disseram ter sofrido alguma forma de bullying nos 30 dias anteriores ao levantamento.

Cyberbullying também é problema

Além de a violência ser praticada ao vivo, o cyberbullying é muito comum nos colégios. A galera conta que as redes sociais são usadas, com frequência, pra “destruir” a imagem dos colegas.
Falávamos muito mal de uma menina no perfil da turma que criamos no Orkut – admite uma das alunas.
Mas não só os anônimos são vítimas desse preconceito. Os astros americanos Justin Bieber e os irmãos do grupo Jonas Brothers possuem perfis com pedidos de votos para que eles troquem de sexo no Facebook. A página que pratica o cyberbullying contra Justin tem quase 400 mil fãs. Comentários contra homossexuais são maioria e vêm também das meninas, que não querem que o cantor “vire uma delas”.

Por que a galera comete bullying?
Allan Beane, especialista em prevenção e interrupção do bullying, cita alguns motivos que levam a essa prática no livro Proteja seu Filho do Bullying (editora Best Seller). O cara sentiu na pele o trauma causado pelo problema. Aos 23 anos, seu filho, Curtis Beane, morreu vítima de consequências do bullying, após sofrer no convívio social desde criança.
► Inveja
Mais comum entre as meninas. Aquela gata que faz sucesso com todos os caras pode ser alvo das invejosas de plantão. Também aquele aluno ou aluna inteligente, que sempre tira nota 10, pode ser excluído pelos colegas que não conseguem se sair tão bem.
► Preconceito
Fácil tirar sarro de quem é considerado diferente da maioria, né? O preconceito se une à covardia e vira bullying.
► Poder
Tem gente que gosta de se sentir poderoso e o centro das atenções, dominando ou atacando pessoas vistas como mais sensíveis ou retraídas. Horrível isso, né?
► Medo
Todo mundo tem medo de ser alvo de piadas. Então, para alguns, o ataque é a defesa. Na opinião desses, é melhor cometer bullying do que sofrer!
► Se achar superior
As pessoas, às vezes, acham ou aprendem que são melhores do que outras e que, por isso, não precisam e não devem ficar perto de “perdedores”.
► Televisão
Algumas pesquisas apontam que a violência mostrada na TV pode tornar a galerinha mais agressiva. Dessa forma, a importâcia do outro passa a ser cada vez menor.
► Vem de casa...
Quando a pessoa não tem afeto em casa ou sofre castigos físicos, ela pode querer descontar nos colegas.
Já quem sofre de bullying dá alguns sinais, como mudanças no comportamento:
>> Não quer ir mais às aulas.
>> Pede para mudar de turma.
>> Tem sintomas de angústia, como dores de cabeça ou no estômago, suor frio...
>> Começa a ter dificuldade de concentração e queda no rendimento escolar.
>> Torna-se arredio, tenso, preocupado e cansado.

Afinal, o que é a prática de bullying?
Allan Beane caracteriza o bullying como:
>> Ameaças e agressões físicas.
>> Forçar o outro a uma situação humilhante.
>> Furto, roubo, vandalismo ou destruição proposital de bens alheios.
>> Insultos ou atribuição de apelidos vergonhosos ou humilhantes, bem como comentários racistas, homofóbicos ou intolerantes.
>> Exclusão ou isolamento proposital de pessoas pela fofoca e disseminação de boatos ou de informações que sujem a sua boa imagem.
Trauma superado
Quando tava na 6ª série, tinha uma turma pequena de amigos no colégio. Me dava bem com todo mundo, até que houve uma festa de aniversário e eu não fui. Depois disso, passei a sofrer bullying de todos que estavam lá. O comportamento mudou e começaram a me colocar apelidos e até atirar coisas em mim. Me sentia humilhada, chorava muito, mas, ao mesmo tempo, não conseguia faltar porque tinha medo que falassem mal de mim. Então, nunca faltava, nem quando tava doente. No final do ano, mudei de colégio. Fiz terapia durante três anos, o que me ajudou a superar tudo isso, mas ainda assim não é fácil falar. Namorei durante dois anos e nunca contei nada disso pra ele. Sentia vergonha. Ainda hoje me sinto humilhada. É horrível!
Ana Carolina*, 15 anos

“Volta pra São Paulo, sua lésbica!”
Era isso que a Aline*, 16 anos, costumava ouvir em sala de aula. A paulistana, que é bissexual, virou alvo de bullying quando seus colegas descobriram sobre sua sexualidade. “Desde que souberam que namorei uma menina, todo mundo passou a usar isso pra me excluir, tirar sarro. É um sentimento horrível. As pessoas me olham como se eu fosse uma aberração. Preconceito mesmo. Aí, aproveitam o fato de eu ser de outro Estado para me xingar mais ainda. Virei a ‘lésbica paulista’, mesmo tendo me adaptado bem e namorado um menino do colégio. Já pensei em mudar de escola, mas não posso contar pros meus pais, que não sabem de nada. Seria muito pesado pra eles, então, é uma coisa minha.
*Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas
Na Telinha
Te Pego lá Fora: um estudante vai entrevistar um novo aluno pro jornal do colégio. Acontece que o cara é um brutamontes psicopata e o desafia para uma luta após a aula. A vítima tenta de tudo para evitar sua “execução” com hora marcada.
Deixe ela Entrar: num subúrbio de Estocolmo, um garoto frágil de 12 anos é constantemente abusado pelos colegas e sonha com uma vingança. Ele conhece sua vizinha, uma vampira que aparenta ter a sua idade. Os dois se envolvem e ela passa a defendê-lo dos ataques.
Meninas Malvadas: uma garota criada na selva africana só conhece uma escola aos 16 anos. Ela começa a andar com patricinhas que adoram esnobar os outros. Para se vingar, a adolescente passa a agir da mesma forma.
De repente 30: Jenna é uma garota divertida, mas impopular. Quando as coisas dão erradas em sua festa de 13 anos, ela deseja ter 30, ser bem-sucedida e ter um namorado. Quando acorda no dia seguinte, tudo é concretizado, mas ela logo percebe que, na realidade, sempre teve tudo o que quis.



@viel
Florianópolis - SC

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